Aqui vai-se falar da cultura em geral De música e literatura em particular

27
Set 09

Por norma, frequento as livrarias aos sábados (tendo-os disponíveis) e faço a(s) minha(s) escolha(s) entre os muitos livros que vejo, tentando dar prioridade à aquisição de obras que à partida são essenciais em qualquer biblioteca.

Confesso que muitas vezes fico com um amargo de boca por não ter a capacidade financeira para comprar mais e por essa razão muitos livros fogem à minha posse.

Quem me conhece sabe que odeio perder tempo com compras e normalmente vou directo ao produto que quero comprar e saio logo. Mas numa livraria transformo-me por completo e sou capaz de ficar horas a vasculhar as estantes.

Se exceptuarmos a minha casa, as livrarias são os locais onde passo mais tempo da minha vida.

Como disse anteriormente, costumo aproveitar os sábados disponíveis para aumentar a minha biblioteca mas o livro que vou referir foi adquirido de outra forma.

Há algum tempo atrás, a um dia da semana, durante a pausa para almoço e antes de regressar ao local onde estava a trabalhar, encontrei por mero acaso (quantas vezes já ali tinha passado!?) um pequeno alfarrabista. E só dei por ele porque na entrada estava um livro que me sorriu.

Parecia que tinha sido colocado ali com o único propósito de me chamar a atenção. Mesmo estando rodeado por tantos outros, os meus olhos só viram esse livro. Todos os outros passaram a ser apenas visão periférica. Só este livro me sorriu e me cativou.   

A minha reacção imediata foi pegar no livro e, tal qual uma criança com um brinquedo novo, quis logo ler o seu interior. Não sei quanto tempo estive ali parado a folhear o livro, só sei que, não fosse a voz que suou aos meus ouvidos a perguntar se estava interessado em comprar o livro, eu tinha passado o resto da tarde à entrada daquele pequeno espaço a ler.

Por não ter o hábito de andar às compras durante os dias de semana, naquele momento eu não tinha dinheiro comigo e pedi ao jovem alfarrabista para me guardar o livro até ao dia seguinte. Aquele livro de capa verde tinha de ser meu e fazer parte da minha bilioteca.

E no dia seguinte o livro de capa verde Obra poética de José Carlos Ary dos Santos editado pelas Edições Avante passou a ser meu a troco de apenas 10 euros.

Pela amabilidade como fui tratado, apesar de estar com roupa de trabalho (suja e esgaçada) e com um aspecto mais condizente com um arrumador de automóveis do que com um amante dos livros, quero deixar o meu apreço ao jovem alfarrabista. Os bons gestos devem ser retribuidos, por isso aqui deixo os contactos deste pequeno espaço ( talvez nem 2 metros quadrados) onde encontrei o livro que me sorriu.

 

LIVRARIA SIMÂO - livros usados, raridades bibliográficas

compra e venda - bibliotecas, livros velhos, usados, antigos, banda desenhada, manuscritos, gravuras, papéis velhos, discos.

Escadinhas de S. Cristóvão, nº18 (à rua da Madalena) 1100-512 Lisboa

psmc@clix.pt  -  211106666  -  961031304

telhadodoze@gmail.com

 

Aqui deixo um poema que sempre me fascinou e que faz parte deste livro do grande Ary dos Santos.

 

Serei tudo o que disserem

por inveja ou negação:

cabeçudo  dromedário

fogueira de exibição

teorema  corolário

poema de mão em mão

lãzudo  publicitário

malabarista  cabrão.

Serei tudo o que disserem:

poeta castrado  não!

 

Os que entendem como eu

as linhas com que me escrevo

reconhecem o que é meu

em tudo quanto lhes devo:

ternura  como já disse

sempre que faço um poema;

saudade que  se partisse

me alagaria de pena;

e também uma alegria

uma coragem serena

em renegar a poesia

quando ela nos envenena.

 

Os que entendem como eu

a força que tem um verso

reconhecem o que é seu

quando lhes mostro o reverso:

 

Da fome já não se fala

- é tão vulgar que nos cansa -

mas que dizer de uma bala

num esqueleto de criança?

 

Do frio não reza a história

- a morte é branda e letal -

mas que dizer da memória

de uma bomba de napalm?

 

E o resto que pode ser

o poema dia a dia?

um bisturi a crescer

nas coxas de uma judia;

um filho que vai nascer

parido por asfixia?!

Ah não me venham dizer

que é fonética a poesia!

 

Serei tudo o que disserem

por temor ou negação:

demagogo  mau profeta

falso médico  ladrão

prostituta  proxeneta

espoleta  televisão.

Serei tudo o que disserem:

poeta castrado  não!

 

Obra poética - José Carlos Ary dos Santos - Edições Avante

 

 

  

publicado por manu às 18:00
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19
Set 09

 

Ao longo da vida deste blogue, só por uma vez, me vi na obrigação de falar de um livro sem referir o título tal a pobreza de conteúdos.

Desta vez vou falar de um outro que, embora contenha boa poesia, é um péssimo livro de poesia.

Se não estivesse inserido numa colecção de poesia mas sim na categoria de ensaio talvez a minha opinião fosse diferente.

Como disse, este livro contém boa poesia mas num universo de 260 páginas são bem escassas as 70 dedicadas a apresentar os 56 poemas.

Quem, como eu, frequenta as livrarias na procura de bons livros tem tendência a fidelizar-se com uma ou outra editora que por norma preza a qualidade do produto oferecido.

Aqueles que acompanham estas minhas sugestões estão bem cientes do meu encanto pela colecção de poesia da editora Relógio D'Água que considero uma das melhores e mais heterogénias.

No entanto, este livro que tenho aqui na minha frente, é uma pedra no sapato desta colecção. Mas a minha opinião vale o que vale e baseia-se em critérios meus que adiante passo a explicar.

 

Em primeiro lugar julgo necessário dizer que adquiri este livro depois de ver nas estantes das livrarias várias edições de diversas editoras. Este facto criou em mim uma tremenda curiosidade. Neste ponto entra em cena a minha fidelidade perante uma editora que me tem, ao longo dos anos, oferecido bons momentos de leitura. Perante distintas edições era de toda a justiça e lógica que eu adquirisse a versão de uma editora cujos produtos me tem agradado.

Para mim, e como disse anteriormente, existem alguns critérios que devem ser respeitados quando se cataloga um livro e este é um caso típico de um livro mal catalogado.

Sendo certo que encontramos poemas neste livro, não acho correcto chamar-lhe um livro de poesia quando apenas um quarto (1/4) é dedicado à apresentação de textos poéticos.

Por outro lado, e perante o mesmo argumento, não é admissível considerar esta obra como pertença de um autor quando a quase totalidade do livro é escrita por outro.

É perfeitamente natural e comum encontrarmos livros prefaciados ou pósfaciados, mas o autor destes textos introdutórios ou conclusivos nunca excede em número de páginas a obra do autor. Este não é o caso.

Podem comprovar o que digo se atentarem na forma como o livro está dividido:

Primeira parte - Introdução à obra poética - meia página(?)

Segunda parte - Resumo das edições ao longo dos anos - texto dedicado a arrasar por completo edições anteriores

Terceira parte - 56 poemas que compõem a obra - único ponto positivo deste livro de poesia (?)

Quarta parte - Notas e comentários a cada um dos poemas e apresentação de variantes (em prosa), dos mesmos, com utilização excessiva de sinal e abraviaturas - parte mais enfadonha do livro numas intermináveis 80 páginas

Quinta parte - Bibliografia e indices - até os poemas tem direito a um indice alfabético.

Perante tudo o que acabei de dizer sou obrigado a considerar que a forma como apresentam Clepsydra de Camilo Pessanha é um ensaio de Paulo Franchetti e não um livro de poesia.

Há livros assim!

publicado por manu às 10:02
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15
Set 09

Apesar do meu tempo na blogosfera ser cada vez menor devido ao, cada vez mais exigente e aglutinador, horário de trabalho, sempre vou tendo um ou outro momento para pesquisar e encontrar algumas pérolas da blogosfera ou, até mesmo, para ser encontrado por alguém cujo blogue merece alguma atenção.

Hoje vou indicar-vos 4 blogues que merecem ser olhados com minúcia. Cada um deles dentro do seu género e com conteúdos distintos.

Começo por http://mmeloup.wordpress.com/ do amigo João Gil onde vão encontrar poemas da sua autoria e que merecem ser olhados com especial cuidado. A qualidade da escrita está presente e os temas variam de poema para poema.

A minha segunda sugestão é http://plantandoamor.blogspot.com/ e pertence à amiga Tatiana que escreve poesia sentimental de um modo muito próprio. Em cada poema é-nos deixado um sentimento dissecado e não estranhem se em algum deles se conseguirem identificar ou rever.

O terceiro blogue que tenho para referir é http://contosmra.blogs.sapo.pt/ e ainda bem que o Mário Ramos D'Almeida decidiu adicionar-me e permitir que eu pudesse ler os magníficos contos que escreve. Tal como já disse ao Mário, é muito raro encontrar alguém tão novo a escrever com tanta qualidade, ainda para mais, num registo tão complicado como é escrever contos. A juntar à forma perfeita de escrever devo realçar a sua tremenda criatividade. Este é um dos casos em que me vejo obrigado (no bom sentido) a chamar a atenção das editoras. O Mário tem, sem sombra de dúvida, um enorme talento e merece uma oportunidade de mostrá-lo, para além dos blogues, numa plataforma com maior visibilidade e projecção.

A minha última referência de hoje recai no blogue http://descemaisuma.blogspot.com/  do amigo Rafael Castellar. Neste blogue podem encontrar um meritório trabalho de divulgação de textos poéticos e não só, de autores desconhecidos e com poucas oportunidades de exposição. Sem querer entrar em comparações (seria despropositado da minha parte) Rafael faz um trabalho quase idêntico ao meu mas com uma, substancial, diferença; enquanto eu divulgo locais onde podem ver textos com qualidade, ele divulga os próprios trabalhos dos autores, dando-lhes visibilidade no seu blogue. 

 

MANU DIXIT

 

publicado por manu às 16:00
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13
Set 09

Já vos falei aqui, num outro artigo, sobre uma questão que, na minha perspectiva, influencia negativamente os hábitos de leitura; os preços dos livros.

Sem querer aprofundar este tema em demasia, devo reiterar a minha opinião desfavorável ao modo como as editoras avaliam as obras que colocam nas livrarias.

Não estarei muito longe da verdade se disser que muitos de vós já abdicaram de comprar um ou outro livro devido à exorbitância dos preços praticados. Atrevo-me mesmo a dizer que já chegaram a comprar um livro de menor qualidade, em detrimento de um grande livro, devido ao custo inferior do primeiro.

Também já não é segredo para ninguém (bem pelo contrário) que os livros de poesia estão hiper inflacionados no mercado nacional, isto se compararmos com os preços de outros géneros literários.

Tal como todos vós, também eu me vejo na obrigação de analisar bem a relação qualidade/preço antes de adquirir um livro.

Se, por um lado, temos um autor consagrado cuja obra é à partida uma garantia de qualidade, por outro lado, devemos ter em atenção se o preço pedido é justo ou se em contrapartida existem alternativas bem mais de acordo com os nossos bolsos.

Neste contexto, tenho o dever, para não dizer a obrigação, de vos aconselhar a procurarem outras edições do mesmo livro e compararem preços. Não raras vezes, encontro o mesmo título numa outra editora e a um preço bem mais razoável.

Sirvo-me desta minha introdução como nota justificativa para os livros que hoje vos sugiro, pois adquiri-os, não individualmente, mas sim num pack de três. Qualquer um deles pode ser comprado separadamente mas se fizerem as contas verão que 23 euros é um valor bem em conta em troco de três livros. E garantidamente, esse valor será muito superior se os adquirirem em separado.

 

Passemos então à apresentação dos objectos que me trazem aqui:

Tal como surge no título deste meu artigo, este é um pack de poesia em alemão. Para os menos atentos ou até mesmo desconhecedores da poesia Teutónica poderá ser um pouco difícil identificar desde logo alguns nomes mas já todos ouvimos falar de romancistas como Thomas Mann e Hermann Hesse do teólogo Lutero ou do fasciante dramaturgo Bertolt Brecht. Na poesia, alguns podem referir Goethe, Schiller ou Heine.

No entanto, a poesia em alemão não se restringe a esses nomes nem ao espaço geográfico da Alemanha da Austria ou Suiça dos nossos dias. Existe todo um passado e uma história que nos trouxe até à actualidade alguns dos textos mais importantes da cultura europeia dos séculos XVIII , XIX e início do século XX.

Georg Trakl (1887-1914) e o seu Outono transfiguado é menos conhecido que Friedrich Hölderlin (1770-1843) e o seu livro Elegias e fica bem na sombra do consagrado Rainer Maria Rilke (1875-1926) com o seu famoso livro As elegias de Duíno.Mas todos eles deixaram uma marca na cultura europeia, cada um com a sua dimensão.

Estes três livros são, no seu conjunto, bons exemplos dos diversos caminhos que a poesia pode percorrer sem deixar de ser sempre inovadora e intemporal.

Cada um dos autores tem uma forma distinta de ver o mundo e de o descrever e as suas vivências, dramas, paixões e experiências estão espelhadas nos seus trabalhos poéticos.

Para terminar digo-vos apenas que este pack é-nos "oferecido" pela Assírio & Alvim.

 

Boas leituras

publicado por manu às 14:38
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