Foi com alguma surpresa que tomei conhecimento desta noticia. O modo triunfal e mediático como foi apresentado o projecto (inclusive com a presença da ministra da cultura na inauguração) fazia prever um outro futuro para a Byblos. Embora nunca tenha entrado na loja (pensava fazê-lo brevemente) fiquei ansioso por conhecer o espaço e o inovador sistema de identificação digital dos 150 mil títulos prometidos. O brutal investimento de 4 milhões de Euros também auguravam um outro desfecho. Afinal, a montanha pariu um rato.
Ao saber do encerramento da Byblos, pesquisei na internet e fiquei a saber alguns pormenores sobre o caso e que merecem reflexão.
1 - Desconhecia, em absoluto, que a inauguração do espaço foi adiada pelo menos duas vezes por indisponibilidade de agenda da ministra da cultura. Por mais consideração que a senhora ministra merecesse e por mais prestigio e mediatismo que a sua presença trouxesse, nunca seria um bom prenúncio adiar a inauguração por esse motivo. E se houvesse um impedimento mais grave por parte da ministra e esta tivesse de renunciar ao cargo? Esperariam pela nomeação de um novo ministro para inaugurar a loja?
2 - Os 4 milhões de Euros de investimento afinal não eram mais do que um "possível" investimento.
3 - Os pagamentos a fornecedores seriam feitos a 120 dias (4 meses), desde que se vendesse esse valor!!? Só seria pago o correspondente ao vendido!!? O "resto" seria devolvido perante uma nota de crédito, sem que o pagamento tivesse sido efectuado!!? Como não estudei economia ou contabilidade, todo este processo é para mim muito confuso e duvido que alguém o consiga compreender.
4 - Os 150 mil títulos prometidos nunca passaram de um número para inglês ver. Pelo que li, a loja tinha mais espaço por ocupar do que ocupado.
5 - O tão publicitado "sistema de identificação digital" foi um autêntico fracasso, um flop.
6 - O mau estar entre os colaboradores era enorme pela decisão administrativa de colocar uma empresa de segurança a "vasculhar" diariamente os seus pertences. Estamos a falar de uma livraria, de uma fábrica de transformação de diamantes ou de uma fábrica de pólvora e armamento?
7 - Já no ínicio do ano alguns funcionários da Byblos, antevendo este desfecho, bateram com a porta. Outros houve, que ainda pensaram que as coisas poderiam mudar e agora não vêem outra saída que não seja o desemprego.
Se a tudo isto acrescentarmos a péssima localização da loja ( longe vão os tempos em que os lisboetas - e não só - se deslocavam às Amoreiras, porque não existia o Colombo nem o Vasco da Gama para se ir ao cinema e fazer compras), temos quase todos os ingredientes para o insucesso do projecto.
Contudo, o que mais ressalta à vista é a tremenda incompetência da administração para gerir este tipo de negócio.
Para terminar, deixo no ar algumas perguntas e que responda quem souber:
Quem é o principal responsável pelo fechar de portas da Byblos?
A quem devem ser atribuídas as culpas desta catastrófica gestão?
Será que os trabalhadores da Byblos podem estar seguros que as suas obrigações fiscais foram salvaguardadas em sede de IRS e segurança social, pela entidade patronal?
Será que o estado não foi, também ele, lesado?
Serão os editores ressarcidos pelos produtos que, contratualmente, venderam à Byblos sem receberem por isso?
Será que o estado vai impedir que estes e outros administradores da nossa praça, continuem a prometer mundos e fundos para depois reclamarem a insolvência das empresas a seu bel prazer?
Eu, por minha parte, continuarei a frequentar as pequenas livrarias que existem e continuam a prestar um belo e simpático serviço a quem, como eu, gosta de livros.